SEGUNDA-FEIRA, 23 DE MAIO DE 2011
Sabemos que as identidades, (incluindo as identidades sexuais e de gênero), não são apriorísticas, ou seja, não podem ser compreendidas como fenômenos meramente biológicos ou naturais que independem da experiência humana.
Nós nos opomos a esta concepção biológica que imagina as identidades como naturais, pois entendemos identidades e sexualidades como sendo espaços conflituosos de profunda dependência do campo da cultura e das experiências humanas na história.
Sendo assim cabe a nós, reiterar constantemente a desconstrução das opressões que incidem sobre as identidades subalternas. Reiterar a desconstrução dos binarismos, denunciar sua estrutura opressiva, desnaturalizá-la, estranhá-la, desfamiliarizá-la, anunciar/difundir sua invenção, uma vez que as sexualidades, os gêneros e as identidades não são apriorísticas, são se tratam de um devir animal, mas sim, propriamente de um devir cultural/devir histórico/ devir político, pois, em termos de identidade(s) não estamos operando em algum campo pré-consciente.
Placer (2001) ao falar das marcas que deixamos no mundo nos tornamos conscientes que ocupamos interinamente um espaço na história e na cultura, pois somos atravessados pelo drama da mortalidade o que impinge em nós o inquietante desejo de constituir sentido para nossa passagem. Para o autor a consciência de nossa presença histórica nos diferencia dos outros animais:
Daí então, que diferentemente dos demais animais – nos quais, antes e além do seu instinto de conservação, parece existir uma espécie de indistinção e imediatismo temporal, em um presente eterno (“como as águas no centro das águas”) –, nós seres humanos, não podemos crescer, viver e envelhecer sem instituir um tempo, sem fragmentar, pautar e contabilizar o seu devir e seu passar; não sabemos deixar transcorrer nossa vida sem nomear, sequenciar, ordenar e esclarecer o sentido do que passa e do que existe e do que permanece, do que desvanece; não desejamos viver sem especificar o indivíduo próprio e o alheio, o que nos une o que nos separa, o que nos diferencia e o que nos iguala. E assim, nós, dependentes do tempo e da identidade, nos apropriamos , cobiçamos, tutelamos e dilapidamos – quase sempre ao mesmo tempo – nossa memória, nossas esperanças e nossa história; dependentes da identidade e do tempo, nós inevitavelmente fazemos contas e espalhamos contos sobre aquele que conta, sobre o que somos, o que nos precedeu e o que nos espera (Placer, 2001, p.82)[1]
Portanto se as nossas marcas sociais, nossas identidades, nossos desejos de sermos felizes e nossa forma de amar são construções, por qual motivo alguns comportamentos, tidos como hegemônicos, de tão naturalizados se tornaram fantasticamente neutros?
Devemos admitir: Somos solapados o tempo todo por agendas educativas normativas em termos de gênero, sexualidade, raça, classe social, assim como seus imaginários desdobramentos estéticos, suas precárias noções de prazer, suas reduzidas noções de afeto e seus normalizados desejos. Modelos (hegemônicos) que de tão fantasiados de naturais são tidos como inquestionáveis. No entanto, pouco paramos para perceber a violência esquizóide/esquisita dessas normatizações, inclusive para quem imagina vivenciá-las.
(Alexandre Pereira, 23 de Maio de 2011)
(Alexandre Pereira, 23 de Maio de 2011)
[1] PLACER, Fernando Gonzáles. “O outro hoje: uma ausência permanentemente presente”
In: Jorge Larrosa e Carlos Skliar(orgs.). Habitantes de Babbel: políticas e poéticas da diferença.
Belo Horizonte, Autêntica, 2001, p. 79-89.
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